Para celebrar o Dia Internacional do Enfermeiro, no passado dia 12 de Maio, o departamento de formação da Vitae Professionals organizou a conferência “Enfermagem em Tempo de Pandemia - Uma Perspetiva Europeia”.
O evento reuniu enfermeiros portugueses a trabalhar em diversos países europeus para discutir os desafios e as perspetivas da profissão, durante a era Covid19 e para além dela, procurando valorizar o papel essencial que têm desempenhado na resposta à pandemia.
Como oradores convidados, estiveram presentes os enfermeiros Fábio Pinto, especializado em Cuidados Paliativos e a exercer funções em Unidades de Cuidados Intensivos na Alemanha; Miguel Silva, a trabalhar na Bélgica desde o início da pandemia; Bruno Sousa, especialista em Urgência e Emergência Hospitalar e Gestão de Unidade de Saúde e chefe de equipa da UCI do Hospital de Cascais; e Ana Torres, que se formou na faculdade de Enfermagem de Coimbra e fez parte da equipa SNS 24, antes de integrar o serviço de emergência do UH Southampton, no Reino Unido.
Na conversa, moderada pela jornalista Regina Nogueira, foram abordados vários temas pertinentes para a profissão de enfermagem nos dias de hoje, nomeadamente as implicações da pandemia a nível pessoal e profissional para quem trabalha na linha da frente ou a importância dos enfermeiros na sua gestão.
“A Covid19 veio mais uma vez mostrar que os profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros, são essenciais: desde logo, é essencial que se comecem a criar condições de trabalho e que sejamos reconhecidos, não só do ponto de vista financeiro, mas social”, disse Bruno Sousa.
A questão do estatuto da profissão de enfermeiro e do investimento na profissão nos diversos países europeus também foi amplamente discutida: “Em Portugal isto não existe mas, noutros países as condições de trabalho são diferentes – no salário, no investimento e na formação dos profissionais. Isto acaba por criar uma visão social da profissão que é distinta”, acrescentou.
Efetivamente, a experiência é diferente consoante o país europeu. Na Alemanha, por exemplo, parece ter havido uma melhoria no valor dado a profissão de enfermagem, depois da pandemia. “Foi uma coisa positiva: nós somos a única função profissional que permanentemente está no hospital com os pacientes – é bom que pelo menos a valorização comece por aí”, explicou o enfermeiro Fábio, atualmente a trabalhar numa unidade de cuidados intensivos do país.
No Reino Unido, existe tradicionalmente um maior investimento na formação dos profissionais e uma maior valorização da especialização do enfermeiro, que têm também mais oportunidades de progressão de carreira do que na maioria dos países europeus.
Falou-se ainda no desgaste físico e emocional que os enfermeiros atravessam. Miguel, que começou a trabalhar na Bélgica durante a pandemia, reconheceu as grandes dificuldades a que os enfermeiros estiveram sujeitos neste último ano de pandemia. Para além do desgaste físico e mental da profissão, foi apontada a pressão acrescida de oferecer também apoio emocional aos pacientes, na maior parte das vezes impossibilitados de receber visitas.
“Nós já éramos a profissão que constantemente prestava apoio aos pacientes. Nesta pandemia tivemos de assumir ainda mais papéis, nomeadamente o de apoiar emocionalmente as pessoas. A maior importância do papel do enfermeiro é essa - nós estamos lá sempre.”
Relembrou-se ainda a importância da celebração do Dia do Enfermeiro, especialmente no contexto atual, para que se continue a discutir a necessidade de investimento nos profissionais de enfermagem, em investigação científica e em recursos materiais para o desenvolvimento da profissão.
Continuar a celebrar este dia é fundamental para mostrar à sociedade civil o que fazemos, mas também para os enfermeiros: “para percebermos isto não é um trabalho fácil, que exige muito de nós, de dizermos a nós próprios ‘eu faço isto e faço-o bem’ e que este dia é para nós também”, disse o enfermeiro Miguel.
“Hoje celebra-se o dia de quem cuida. É o mais básico valor da enfermagem”, concluiu a enfermeira Ana Torres.